Para finalizar o tópico sobre escalas
psicofísicas, resolvi dedicar um texto a um erro muito comum ao se traçar
hipóteses quantitativas: tomar medidas ordinais como se fossem intervalares. Em
um texto
anterior foram definidos os níveis de medidas. De maneira resumida,
uma escala ordinal estabelece uma relação de ordem entre os eventos de
determinado atributo que se deseja mensurar do mesmo modo que uma escala
intervalar; porém, por meio desta última conhecemos a diferença de magnitude
entre os eventos, que se mantém constante em toda a escala.
O
que acontece na psicologia é que a natureza de variáveis como inteligência,
resiliência, autoconceito e traços de personalidade compõe diversos componentes
difíceis de serem observados e avaliados, ainda mais em intervalos de medidas
iguais. Este fato levanta uma série de problemas à tentativa de mensurações
mais completas acerta de fenômenos comportamentais e cognitivos.
Somado
a isto, a riqueza de análise devido a pouca perda de informação e o número de
axiomas preservados faz com que muitas escalas ordinais em psicologia sejam
tratadas como intervalares. Isto se torna claro ao vermos a quantidade de
instrumentos que se utilizam de médias aritméticas ou somatórios de itens ou
sub-escalas. Alguns teóricos defendem que ao tomarmos a pontuação total de
itens claramente ordinais, estes se aproximam de escalas intervalares. Há
aqueles que ainda vão além ao afirmarem que uma escala é apenas uma convenção e
é boa na medida em que funciona bem na prática.
Apesar
da estatística “ilegal”, Stevens chegou a afirmar que resultados frutuosos
corroboraram de maneira pragmática esta prática, mas alertou que é um erro
calcular média e desvios padrão de uma escala ordinal, na medida em que os
intervalos sucessivos da escala são desiguais. Se tal prática for levada a diante
é necessário, pelo menos, que extensa investigação sobre as propriedades de
medida dos dados seja realizada, bem como sobre a qualidade da operação
experimental que permite a mensuração do atributo em questão. Mesmo assim,
críticas conceituais severas vêm sendo aplicadas a esta ampla prática por
grandes nomes da Psicologia. Os teóricos mais fundamentalistas afirmam que o
tratamento de atributos ordinais como se tivessem estrutura intervalar pode
levar a conclusões inválidas.
Por
vezes, amparados pela prática, é comum pensarmos que a pontuação de algum
construto teórico em alguns testes são medidas intervalares. Mas isto não passa
de uma especulação, mesmo que coerente. Como cientistas, não somos livres para
reivindicar essa crença como um
resultado científico na ausência de
provas. No entanto, isto é
precisamente o que muitos psicólogos fazem quando eles apresentam seus testes para as comunidades científica e leiga,
como instrumentos capazes de medição
de escala de intervalo. Esta
crítica foi feita por Joel Michell, e para se aprofundar no assunto basta
acessar as referências de sua autoria ao final do texto. Deste modo, é melhor
adotar uma postura de rigor matemático perante toda medida intervalar no qual
não as sabe seu real valor preditivo, frente ao atributo que esta pretende
avaliar.
Quer baixar o texto? Clique aqui.
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Rui de Moraes Jr.
Para saber mais:
Da Silva, J. A. Ribeiro-Filho, N. P.
(2006). Avaliação e mensuração da dor: pesquisa, teoria e prática. Ribeirão Preto: FUNPEC-Editora.
Michell, J. (1997).
Quantitative science and
the definition of
measurement in psychology. British
Journal of Psychology, 88,
355- 383.
Michell, J. (2002). Steven’s theory of scale of measurement and its
place on modern psychology. Australian Journal of Psychology, 54(2),
103.
Nunnally, J.C., &
Bernstein, I.H. (1994).
Psychometric Theory (3rd
ed.). New York, NY: McGraw- Hill Book Company.