Em 1913 um psicólogo italiano chamado Mario
Ponzo (1882 -1960) apresentou uma ilusão geométrica simples. Essa ilusão
recebeu o seu nome: ilusão de Ponzo. Se você olhar a Figura 1, verá que as
linhas amarelas parecem ter tamanhos diferentes, mas com um olhar mais atento
perceberá que elas possuem o mesmo tamanho.
Figura 1. Ilusão de Ponzo. As duas linhas amarelas possuem o mesmo tamanho. Dúvida? Então pegue uma régua e meça as duas linhas... Fonte: Wikipedia |
Dê mais uma olhada na ilusão. Ela parece
forte, não é? Mesmo você sabendo que as duas linhas paralelas têm o mesmo
tamanho, fica difícil acreditar nisso.
Qual a chave dessa ilusão?
As linhas verticais convergentes indicam
distância por meio da perspectiva (as linhas convergem no horizonte). Elas
fazem parte do que chamamos de indícios pictóricos de profundidade, que
fornecem informação de distância ao observador numa imagem, como as linhas
convergentes do trilho na Figura 1.
A chave da ilusão de Ponzo é que as linhas oblíquas
convergentes indicam distância na imagem, como se elas convergissem no
horizonte. Então, ao se colocar duas linhas paralelas de mesmo tamanho a de
cima parecerá estar mais distante e dessa forma será percebida como maior.
Figura 2. Animação mostrando que as duas linhas possuem o mesmo tamanho na Ilusão de Ponzo. Fonte: Wikipedia |
Estamos acostumados a observar imagens em
superfícies bidimensionais, como fotografias, filmes, tela de computador e etc.
e percebermos profundidade nessas imagens. Pensando na ilusão de Ponzo, será
que se você vivesse em outro contexto cultural e geográfico a ilusão teria a
mesma força?
Leibowitz e colaboradores testaram isso. Eles
variaram as pistas de perspectiva na ilusão de Ponzo e as apresentaram para
estudantes da Pensilvânia (uma grande cidade dos EUA) e Guam (uma pequena ilha
do Pacífico que pertence aos EUA). A diferença entre os dois grupos é que Guam
fica num território mais plano e pequeno, então, esse grupo poderia ter um
desempenho diferente por conviver com menos influência dos indícios de
profundidade (naturais e artificiais). O resultado foi interessante: a ilusão
foi maior no grupo da Pensilvânia. Esse e outros estudos¹ apontam que as
experiências prévias com pistas de profundidade influenciam a força da ilusão
(leia mais em outro texto do nosso blog aqui).
Figura 3. Outros modelos de ilusão de Ponzo. Fonte: da esquerda para a direita - Retina Anatomy; Brisray e Richard Gregory. |
Como vocês devem ter notado, as ilusões (como
a de Ponzo, grade de Hermann e imagens híbridas) são um excelente material para se estudar
como funciona nosso sistema sensório-perceptual. Nossa representação mental do
mundo parece um retrato fiel do mundo físico. Mas quando há alguma ilusão nos
damos conta que esse retrato não é tão fiel quanto imaginamos. Por meio das
ilusões podemos inferir como as pistas sensoriais são processadas pelo cérebro
para criar a nossa representação do mundo externo e como nós interagimos com
ele.
Quer baixar o texto? Clique aqui.
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Bruno Marinho de
Sousa
Leia mais:
¹Diferenças culturais e ilusões: Segall, M.
H., Campbell, D. T., & Herskovits, M. J. (1963). Cultural differences
in the perception of geometric illusions. Science, 139 (3556),
769-771.
Leibowitz, H.,
Brislin, R., Perlmutrer, L., & Hennessy, R. (1969). Ponzo perspective
illusion as a manifestation of space perception. Science,166 (3909),
1174-1176.
Schiffman, H. R. (2005). Sensação e Percepção,
LHC: Rio de Janeiro, RJ.
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